sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Dinheiro: o princípio do mundo.

A crise econômica é notícia no jornal. Percebe-se pela quantidade de tempo que se dedica a ela nos meios de comunicação. Basta a divulgação de alguma informação qualquer para que os ânimos se estremeçam. Por quê? Respondo: dinheiro. Seja qual for a sua natureza (metal, real, virtual) é ele quem manda no mundo hoje.

É comum uma atuação repulsiva quando um ouvinte toma conhecimento de que alguém fez algo só por dinheiro (ex. casou só por dinheiro). Mas na verdade, o mundo todo toma suas decisões com base em dinheiro. Quando uma proposição é levada em consideração para a escolha entre caminhos a seguir, entre decisões a serem concretizadas, estaremos diante, grosso modo, de um princípio. Entretanto, se revela assustador imaginar que o dinheiro possa ser um princípio. Seria melhor ter a dignidade, a solidariedade, a honestidade, a probidade, a moralidade como princípios, mas não é o que ocorre nesses tempos de crise.

Se olharmos ao redor, veremos a quantidade de Bancos (PRIME, Personalite, Unibancoclass, Estilo) que se tornaram exclusivos para quem tem dinheiro. Veremos, também, a quantidade de festas na praia (espaço público) onde se reservam áreas (VIPs) para os mais afortunados. O que dizer então do surto de igrejas milionárias surgidas nas últimas décadas e de políticos que, após a investidura, enriqueceram. Aqui são só alguns exemplos, o próprio leitor pode constatar a sua volta, quantas decisões são tomadas com base no dinheiro, deixando outros princípios tão caros à humanidade de lado.

O grande filósofo espanhol Ortega Y Gasset afirma que o dinheiro só manda quando não há outro princípio que mande. Diz, ainda, o filósofo que onde houver cinco homens em estado normal se produzirá automaticamente uma estrutura hierárquica. O grande problema de nossa sociedade é que o “princípio” que está determinando nossa hierarquia é o dinheiro.

Mas o dinheiro é matéria, os verdadeiros princípios não. Quando a matéria não tiver mais valor, aqueles que possuírem princípios é que sobreviverão. A literatura, às vezes, traduz a realidade de forma impressionante, basta ler José Saramago (Ensaio Sobre a Cegueira) para perceber o que digo.

Julio Cesar Santiago A. de Oliveira

terça-feira, 20 de maio de 2008

Idéias Abstratas

Uma coisa que eu percebi ao observar o comportamento das pessoas é que cada um fala o que quer, sem qualquer preocupação com a verdade. Se é que existe uma. Parece óbvio em tempos democráticos, onde o rigor da ditadura não está mais presente, ao menos aparentemente. O que eu quero enfatizar com isso é que cada vez mais “idéias” são difundidas no seio social, pouco importando se estão baseadas em algum tipo de princípio ou mesmo se possuem algum indício de verdade. Isso faz com que se exija maior qualificação do indivíduo receptor para que seja apto a separar o joio do trigo.

Todo mundo deve conhecer os conceitos de raça ariana, terrorismo, eleitor, consumidor, meio ambiente, direitos fundamentais, etc (ao menos deveriam). Poucos, no entanto, saberiam dizer o que eles têm em comum. Eu, talvez, com a probabilidade de ser tachado de louco, vos direi. Embora possam ser expressões consideradas destoante, todas têm algo que as interligam como axônios de neurônios. São expressões que colocam o ser humano em segundo plano. Consubstanciam em uma tentativa de reificação do ser humano. Somos transformados em coisa. Deixamos de ser o fim de todas as coisas e passamos a ser o meio de alcançar algo (ainda que um desejo obscuro).

As expressões antes citadas serviram para aqueles que detinham o poder, em determinado momento, justificarem suas ações em nome de objetivos não esclarecidos (ao menos oficialmente). Hoje isso para mim fica mais claro do que água. Hitler se valeu da raça ariana, os EUA se valeram do terrorismo e direitos fundamentais, os políticos de hoje utilizam o eleitor, os grandes monopólios os consumidores.

De fato, deixei de citar, propositadamente, no parágrafo anterior um conceito: o meio ambiente. Quem será que o utilizará nos dias atuais? Bem, as últimas notícias do New York Times parecem nos dar algum indício.

Sempre aprendi em biologia que as algas marinhas eram responsáveis por noventa porcento do oxigênio do mundo, pois não consumiam todo aquele que produziam, ao contrário da floresta amazônica (biólogos me corrijam se eu estiver errado). Por que, então, a preocupação do mundo com a Amazônia? Será que a matéria prima lá existente tem alguma coisa a ver com isso???

Hummm...é melhor prepararmos nosso exército, sem querer ser pessimista, ou reconhecermos nossa incompetência e vendermos a floresta para os estrangeiros. Ao menos evitaremos mortes como ocorreu com a raça ariana, terrorismo, direitos fundamentais, eleitor, etc.

Não há outra conclusão: as idéias são abstratas, cada um faz delas o que bem entender e com o meio ambiente não vai ser diferente.
Julio Cesar Santiago A. de Oliveira

quarta-feira, 12 de março de 2008

Morte à indiferença

A morte é um assunto do qual eu jamais me furtei a refletir. Considero um tema bastante interessante como objeto do conhecimento, embora tenha certeza que se trate de uma questão mitológica para muitas pessoas, ainda que não tenham como escapar quando a natureza das coisas se fizer presente ao fim da vida.

O que mais me assusta quando penso na morte é a indiferença das pessoas quando alguém morre. O assunto muitas vezes é relegado a segundo plano, ainda mais quando a causa envolva aspectos que possam tocar em questões sensíveis a alguns órgãos públicos. Às vezes as informações não chegam onde tem que chegar por medo, ou por interesses obscuros.

Confesso que ando indignado com a indiferença da mídia televisa. Explico melhor. Eu estava assistindo ao jogo do Fluminense contra o Resende, na Plim-Plim, na quarta-feira à noite, quando houve o apito inicial do juiz. Neste momento, os jogadores fizeram um minuto de silêncio. Ora, qualquer cabeça de bagre que “discute” sobre futebol em qualquer botequim sabe que quando ocorre esse fato é porque alguém faleceu. Quantas vezes ouvimos, em épocas remotas, o narrador da “campeã de audiência” informar sobre a morte do roupeiro ou de um dirigente do time que está em campo, ou mesmo de um torcedor ilustre. Mas para minha surpresa não houve qualquer informação prestada pelos “conhecedores de futebol”.

Inconformado com tal indiferença, enviei na mesma hora um e-mail para o que eles chamam de “interatividade”, escrevi: “Noronha, porque houve um minuto de silêncio no início do jogo?” Para minha surpresa (ou não) meu nome não apareceu na televisão. Os “senhores do futebol” permaneceram o primeiro tempo do jogo “debatendo” se a “pedalada” era um indício de incitação à violência. Era demais, embora eu “torça” para o Fluminense, desisti de ver o jogo. Mas não de saber quem havia falecido.

Bem, a essa altura vocês devem estar se perguntando quem teria morrido (tenho certeza que não estão indiferentes). Para os mestres da “audiência” ninguém importante, mas para um pai que deve estar inconformado, uma das razões de sua vida: Daniel Carrilho Evaristo, de 8 anos, torcedor do Fluminense, morador da Tijuca, diagnosticado por um médico como sendo apenas uma virose, mas morto 4 dias depois em decorrência de uma dengue hemorrágica.


Julio Cesar Santiago A. de Oliveira

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O "Gene Inteligente"

Na Apresentação (Out./2007) deste protejo (Isagoria Nacional) eu toquei em um assunto, ou melhor, mencionei um conceito que não tive oportunidade de delimitar seu significado. Para que não fiquem dúvidas a respeito do seu alcance, resolvi identificá-lo neste momento, embora de forma resumida, deixando para o futuro o aprofundamento dos pressupostos que o geraram.

Desde que passei a perceber a realidade com enfoque mais coletivo e social possível, constatei que, em muitos setores da sociedade, a perpetuação hereditária passou a ser tentada a todo custo. Seja na música, na arte, nos esportes, nas empresas ou, onde eu considero bastante delicado, nos poderes públicos.

A necessidade, quase uma obrigação, de que filhos sigam os passos dos pais faz com que alguns princípios sejam deixados de lado (p.ex: igualdade de oportunidade), de modo que aquilo que era para ser um fator natural, passa a ser uma deturpação da natureza. Esse fenômeno tem acontecido de maneira constante e assustadora. Gerações que não possuem o menor talento de seus genitores, nem mesmo uma vaga lembrança do que foram, passaram a colher os esforços de seus antepassados, como se tivessem contribuído para isso. O que é pior: a sociedade os aceita, confundindo os filhos com os pais, como se fossem a mesma pessoa e como se tivessem conquistado esse espaço.

Obviamente que não falo dos filhos que seguem os passos dos pais de forma natural. E muitas vezes os superando com seu talento. Falo daqueles que são, digamos assim, no jargão popular, “apadrinhados”. Ou seja, que não possuem a vocação para chegarem onde estão em condições de igualdade com qualquer cidadão. Entretanto, alcançaram a posição diferenciada em uma sociedade de massa e competitiva, única e exclusivamente, por serem “colocados” nela. A esse fenômeno me referi quando iniciei a Apresentação deste espaço (Isagoria Nacional).

É como se houvesse um gene na geração anterior que possuísse vida e inteligência própria apto a transmitir todo o talento de forma incontestável à geração posterior. Com isso seriam transmitidas, igualmente, todas as conseqüências advindas desse talento. Até mesmo o gosto e opinião popular, que não seriam mais vontade do próprio povo, mas sim determinada pelo gene transmitido.

A esse fenômeno que eu chamo, ironicamente, de transmissibilidade do “Gene Inteligente”. Mas isso não ocorre no Brasil, deve ocorrer em qualquer lugar do mundo, menos aqui! Assim, espero!


Julio Cesar Santiago A. de Oliveira

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O Samba e o Holocausto

A justiça do Rio de Janeiro, às vésperas do carnaval, resolveu proibir o desfile de um carro alegórico de uma escola de samba que retratava o drama vivido pelos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. O carro trazia esculpido um amontoado de corpos esquálidos, com um “destaque” em cima: um sambista vestido de Hitler. A situação como não poderia deixar de ser causou polêmica, não só pelos aspectos jurídicos que a envolvem, mas do próprio aspecto social que eu considero mais importante: a falta de diálogo em uma sociedade miscigenada. Vamos aos fatos noticiados nos jornais.

Em primeiro lugar leio (O Globo de 01.02.08, p. 20) que houve tentativa de impedir amigavelmente o desfile da alegoria. Os representantes da comunidade judaica enviaram pedidos para que não houvesse o tal carro, ou, ao menos, que não se colocasse um sambista vestido de ditador em cima do carro. Por outro lado, leio que os mesmos representantes afirmaram que o Holocausto era para ser ensinado em escolas (concordo) e não em passarela de samba (discordo). Do ponto de vista da escola, leio que o Carnavalesco não queria nenhuma interferência em seu trabalho. No entanto, pouco antes de proferida a decisão, admitiu em uma revista que cogitava adaptar o carro alegórico.

A simples narrativa dos fatos noticiados (se forem verdadeiros) nos dá uma clara percepção da falta de diálogo e preconceito entre mundos diferentes que pertencem ao mesmo planeta. Não entrarei no mérito da liberdade de expressão, que, ao meu ver, mereceria um livro. Entretanto, fica evidenciado que nenhuma das “partes” envolvidas queria de fato dialogar. Dizer que o Holocausto não pode ser “ensinado” em um movimento de massa como é o carnaval é querer negar o próprio fato histórico ocorrido na Segunda Guerra. É querer personalizar um acontecimento que maculou a espécie humana restringindo-o ao círculo restrito dos judeus. Se é que se pode “classificar” os seres humanos pela religião que seguem: os judeus, os católicos, os evangélicos, os islamitas. Os seres humanos não podem e não devem ser distinguidos pela religião que (não) seguem.

De outro turno, colocar um ditador sambando em cima de um monte de corpos de pessoas que sofreram na mão dos nazistas é uma idéia de pura falta de bom senso. Chego a duvidar se isso realmente seria arte. Lembrar um fato histórico como o Holocausto é uma obrigação de todos os seres humanos, para que o mesmo não se repita com quem quer que seja (índios, negros, deficientes físicos, gays, etc). Entretanto, ainda que em uma festa alegre como o Carnaval, isso deve ser feito com parcimônia e seriedade, para que não se banalize um acontecimento tão chocante como foi esse massacre.

Concluo deixando um alerta: não só o Holocausto não deve ser esquecido, como também inúmeros outros acontecimentos que reduzem seres humanos à condição de objeto, como ocorre freqüentemente em todas partes do mundo, pois os fatos pertencem à história e esta, por sua vez, é feita por seres humanos juntamente com o ambiente em que vivem.

Julio Cesar Santiago A. de Oliveira

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Tropa de Traficantes

O filme Tropa de Elite (sim, eu também vi), que retratou a atuação nas favelas cariocas realizadas pelo BOPE (polícia especializada do Rio de Janeiro), dentre vários temas abordados que poderiam ser objeto de análise, não tratou de um que eu considero principal: será que a liberação das drogas ou sua eliminação por completo resolverá o problema do traficante no Rio de Janeiro? A sociedade só se preocupa com o traficante (criminosos de um modo geral) quando ele é rico, mas quando ele é pobre parece que há um senso de normalidade quanto a esta situação. Sua história não importa tanto.

É óbvio que a resposta à pergunta acima só pode ser não. Isso porque a questão do traficante não se resolve entrando no morro e matando dez ou vinte. Tampouco fazendo mirabolante demonstração de poder, os matando em cadeia nacional. Existe um sistema por trás de tudo isso que mantém as coisas como estão. Morrerão quantos foram necessários para se fazer política com toda essa questão. Mas volto a repetir, o problema é de sistema, onde tudo começa na ausência de oportunidade.

A liberdade de agir pressupõe a oportunidade de escolha entre vários caminhos. Se o individuo não pode escolher, mas tão somente seguir em uma única direção, que ele não a tem como injusta, não vai ser a morte de vários traficantes que resolverá o problema. Há quanto tempo se mata traficante e morre policial? É um ciclo vicioso. Isso persistirá enquanto não houver uma mudança de perspectiva. Não adianta só salvar o drogado e prender o fornecedor. É preciso dar oportunidade para agir diferente, pelo menos para a geração que virá. Em um país onde a má distribuição de renda é gritante e a corrupção maior ainda, a questão não se resolverá por completo, enquanto se fizer politicagem com um assunto delicado como esse.

Liberar as drogas só favorece o drogado que terá livre acesso ao seu bem de consumo (como já se fez com a bebida). Não favorece o fornecedor (traficante). Isso porque é notório que uma vez liberada a droga, as grandes empresas de tabaco, automaticamente, absorverão esse mercado, tendo em vista o seu poder econômico, a similitude dos produtos e a existência de consumidor fiel aos mesmos. Ou seja, lucro fácil com o aval do Estado!

E se isso não acontecer, caso o Estado assuma o fornecimento em rede pública de saúde (o que ia ser o caos), a situação para os efetivos e potenciais traficantes será a mesma que os empurrou para este caminho: “falta de efetiva oportunidade” (não falo de construir praças para jogar futebol). Uma vez não alcançado o emprego no mercado formal, haverá a migração destes criminosos para a prática de outros delitos, talvez até mais graves, como a extorsão mediante seqüestro, por exemplo. É sempre bom lembrar que a criatividade humana não tem limite, é possível que haja a criação de novos delitos para absorver todos esses profissionais do crime.

A menos que alguém acredite que a indústria tabagista vá contratar traficantes como consultores de vendas. Experiência eles têm.

Julio Cesar Santiago A. de Oliveira

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

A Igreja e os impostos

A revista Veja publicou na edição n° 40 (outubro de 2007) uma matéria sobre a guerra de bastidores por audiência envolvendo as emissoras de televisão Globo e Record. Embora se possa pensar que esta disputa seria salutar para a sociedade, a situação é mais grave do que aparenta.

O que chama a atenção não é a batalha em si pela conquista de mercado, mas sim o fato de recursos utilizados pela Igreja Universal do Reino de Deus serem repassados à emissora de um bispo por meio de compra de espaço supervalorizado para a realização de programas. Os mesmos são veiculados no horário da madrugada cujo ibope é baixo (segundo a revista 1 ponto). Em princípio esse horário, a meu ver, não atingiria o público da igreja, em sua maioria, formado por trabalhadores de baixa renda que não costumam assistir televisão de madrugada.

A Igreja investe, segundo a revista, 300 milhões anuais na emissora do bispo. Quem já viu algum desses programas percebeu que ali são vendidos, tal como em qualquer programa de vendas, inúmeros produtos relacionados ao mundo Gospel. Impressiona o fato de alguns cantores, outrora freqüentadores de programas dominicais de maior audiência, agora venderem “em nome do senhor”.

Outro detalhe que chama atenção são os dois bilhões faturados pela Igreja anualmente com o dinheiro dos fiéis. Ora, questiono eu, se cada cidadão brasileiro que ganha acima de determinado valor deve pagar impostos, por que a Igreja que fatura muito mais e investe em tudo quanto é tipo de atividade econômica não contribui para a manutenção do Estado, desonerando os demais cidadãos? Relembro que o fato de a Igreja não recolher impostos onera o contribuinte que muitas vezes é descontado em sua fonte de rendimentos.

Na medida em que Igrejas exercem atividades lucrativas se colocam em uma situação de vantagem em relação àqueles que prestam serviço equivalente e que não possuem a mesma isenção tributária. O fato de exercerem atividade “em nome do senhor” não as coloca em uma posição de superioridade frente às demais instituições e cidadãos desse país. É preciso rever determinados dogmas, sob pena de um Estado que se instituiu laico, transformar-se em uma teocracia ou idolocracia, onde prevalece a vontade da divindade e não das pessoas que compõe o seio social.

A história demonstra que por trás de uma divindade há sempre um rei, que tanto pode ser bom, como também pode ser muito mau.

Julio Cesar Santiago de Oliveira